Histórias arrepiantes de quem jura ter visto assombrações
Elverson Cardozo
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Duvidar muita gente duvida, mas passar pelas mesmas experiências quase ninguém quer. As histórias de assombrações ganham força hoje (31), no “Dia do Saci”, para os brasileiros, ou Halloween, como a festa é conhecida nos países anglo-saxônicos.
O Lado B saiu às ruas de Campo Grande em busca dessas histórias e de relatos de gente que jura ter visto assombrações ou, mesmo sem qualquer contato ou comprovação, acredita nas histórias repassadas boca a boca.
“A única assombração aqui sou eu”, brincou a zeladora Vera Ilda Pereira, de 55 anos, que trabalha há três décadas entre os túmulos do cemitério Santo Antônio, o mais antigo de Campo Grande.
“Quando o Zé do Caixão levanta eu saio correndo”, acrescentou, ao dizer, com muito bom humor, que não acredita “nessas coisas”. “Os mortos não fazem nada não. Tenho medo é dos vivos”, disse.
A loira que sai do túmulo - Mas há um boato, revelou, que deixa os funcionários intrigados. Rola a conversa de que uma loira, vestida de branco, sai à noite de um dos túmulos construídos na entrada do cemitério, chama um taxi, vai para a cidade, faz compras, volta e, quando passa do portão, desaparece. “Mas eu nunca vi”, finalizou.
Do lado de fora, o taxista mais antigo, Alípio Costa, de 79 anos, confirma o buxixo e apresenta novas informações, mas é descrente do fato. “Isso é conto de carochinha. Trabalho aqui há 39 anos e nunca vi nada”, disse.
Quem espalhou a primeira versão, conta, foi um amigo, que trabalhava com ele na época em que era o responsável pela frota de taxi daquele ponto. Na companhia de Alípio, a equipe do Lado B saiu à procura de “Batatinha”, o taxista que deu carona à suposta defunta e que hoje, 30 anos depois, trabalha em outro ponto.
Jucelino Alves Pereira, de 59 anos, o “Batatinha”, cai na gargalhada quando descobre o motivo da reportagem, mas aceita conversar enquanto faz uma corrida à aldeia Marçal de Souza, o próximo caminho de nossa equipe. Lá encontraríamos a história do “assovio misterioso”.
Da fonte oficial, a história da loira que sai do túmulo é bem mais simples e, por incrível que pareça, consegue ser mais interessante. Como todo bom relato de terror, este também aconteceu durante a madrugada, por volta de 1h. Foi no ano de 1979.
Batatinha estava cochilando no taxi, em frente ao cemitério Santo Antônio, quando foi surpreendido por duas jovens, uma loira e uma morena, que aparentavam ter menos de 20 anos. O pedido foi simples: Uma corrida a qualquer igreja.
A escolhida, pelo próprio taxista, foi a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que fica na Afonso Pena, no bairro Amambai. Quando entrou na avenida Salgado Filho, a loira, que estava com amiga no banco de trás, comentou, sem qualquer motivo, que tinha medo de faca.
O taxista, que por algum tempo chegou a carregar no carro um faca, com medo de assalto, quis saber o porquê. “Ela falou: fui morta aos 13 anos, a facada”, relatou. “Eu perguntei: Você mora aonde? Ela respondeu que era no cemitério, em um túmulo preto, na entrada. Depois disse que o pai dela chamava Jonas e a mãe Maria”, completou.
A revelação da morte, dentro do veículo, causou espanto, mas Jucelino imaginou que fosse brincadeira de mau gosto e chegou a pensar que as garotas pretendiam assaltá-lo. Sem comunicá-las, ele resolveu mudar o caminho e parou na antiga rodoviária de Campo Grande. Se fosse um assalto, relembrou, poderia pedir ajuda aos colegas taxistas.
Mas não houve qualquer ação nesse sentido. Quando o táxi chegou à rodoviária, as jovens pagaram a corrida e, sem questionar, desceram. Quando o taxista retornou ao ponto, em frente ao cemitério, uma nova surpresa: A loira e a morena estavam, novamente, no mesmo local e, como antes, pediram uma corrida “para qualquer igreja”.
“Aí eu vi que não era um assalto”, conta. Mesmo com medo, Batatinha resolveu fazer a corrida. Mas, desta vez, não perguntou nada e, ao invés da igreja Nossa Senhora Perpétuo Socorro, deixou as “clientes” na Igreja Sirian Ortodoxa. Foi a última vez que viu a loira misteriosa. A morena, durante todo o trajeto, da primeira e segunda vez, não abriu a boca para dizer nada.
Para os amigos do taxista, o que aconteceu não passou de invenção, de um devaneio qualquer. Alípio Costa, por exemplo, acredita que Jucelino dormiu e sonhou com tudo isso, mas Batatinha garante que o relato é verdadeiro. “Na nossa vida acontece de tudo. Você não pode duvidar de nada. Se me pedirem para contar mil vezes eu vou contar igual”, disse.
A mulher do cabelão – As histórias de terror não são exclusividades da cidade. Na aldeia Ipegue, distrito de Taunay, em Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande, todo mundo conhece a história da "mulher do cabelão".
Alguns dizem que se trata de uma morena, outros teimam que é loira, mas de uma coisa ninguém duvida: Trajando uma longa vestimenta branca, ela aparece debaixo de um pé de manga, em uma área mal iluminada, e prefere os dias de lua cheia.
Com a beleza, encanta moradores e os leva para o cemitério da cidade. De longe é linda. De perto, tem o rosto coberto por larvas. O boato, com ares de lenda, existe há mais de 30 anos. É repassado de geração em geração e ainda assusta muita gente.
Fabriciane Malheiro, de 29 anos, que nasceu na Aldeia Ipegue, ouviu essa história do próprio tio, que garante ter sido o primeiro a ver a tal assombração, em 1980. Na versão repassada à jovem, o espírito que vaga a aldeia é de uma linda morena, alta, esguia, de cabelos compridos, que aparece apenas para os homens ou para quem quer vê-la.
Passava da meia-noite quando o tio de Fabriciane saiu da casa onde estava para ir ao banheiro, que ficava do lado de fora. No caminho, ao passar pelo pé de manga – que fica em uma área cercada de árvores da mesma espécie -, encontrou, pela primeira vez, a "mulher do cabelão".
"Quando saiu ele viu uma moça muito bonita saindo debaixo do pé de manga. Ela olhou para ele e continuou andando. Depois, virou a esquina onde tinha um cavalo branco, mas o bicho saiu correndo", contou. O tio, tremendo de medo, tratou de fugir.
Anos mais tarde, a mesma assombração teria aparecido para outros dois jovens. Curiosos, eles passaram a segui-la. “Quando ela virou para os meninos, o rosto dela era só coró”, disse.
As últimas aparições da “mulher do cabelão” teriam ocorrido no ano passado. “Ela já levou um para o cemitério. Chegou perto e falou: Vamos conhecer minha casa? Quando a pessoa se dá por si já está na porta do cemitério”, relatou.
Com a mesma convicção de Fabriciane, Ivaneis Gonçalves Moreira, de 37 anos, que também nasceu na aldeia Ipegue, confirma o relato, mas para ele a história chegou com algumas alterações. A “mulher do cabelão” é loira e não uma morena. O local em que aparece também é diferente. Seria debaixo de um pé de ingá e não de um pé de manga.
“Dizem que ela te convida para ir até a casa dela. O pessoal fica meio vendido, meio fascinado. Tem um cara que ficou perdido no meio do mato e só voltou dias depois”.
A história, para ele, é verdadeira, incontestável, porque foi repassada por parentes e moradores de confiança. “Não é bem uma lenda, porque todas as lendas são baseadas em histórias verídicas”, destacou.
Acadêmico do curso de letras na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Ivaneis já tem o tema para o seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso): literatura e cultura indígena.
A ideia é transformar essas histórias em um livro que poderá ser distribuído nas reservas indígenas do Estado. “Está perdendo isso. A pessoa não senta mais com o filho porque já tem televisão, computador. Não conversa, não interage mais”, afirmou.
Fora a mulher do cabelão, na aldeia, ressaltou, há uma porção de outros relatos assustadores: do homem que vira lobisomem, do “pé de garrafa”, o andarilho que grita à noite e faz as pessoas se perderem, entre outros.
O assovio misterioso na aldeia - Para Fabriciane, não é bom duvidar de assombrações. Na aldeia urbana Marçal de Souza, onde mora há 12 anos, corre a história do assovio misterioso.
Todas as quintas-feiras à noite, por volta das 22h, quando algum morador faz ou participa de algum ritual indígena, alguém assovia. Ninguém sabe quem é e de onde vem o som, que é “bem fininho”.
Fabriciane jura que já ouviu. Foi em 2009, era noite e e ela estava saindo da casa de uma amiga. “Começou bem fino e foi sumindo. Era como se estivesse perto de mim”, contou. O jeito, relembrou, foi correr de volta para casa.
Uma parenta já tinha comentado que ali havia um “assoviador”, mas a jovem não deu atenção. “Eu falei: Eva, estamos na cidade e aqui não tem esses negócios não”, relembrou.
E você, leitor, acredita nessas histórias? Conhece alguma assustadora? Compartilhe!
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